segunda-feira, 4 de maio de 2009

E eu não consigo dormir...

Madrugada fria... Pijama quente... Cobertores... e eu a rolar de um lado para outro. Que coisa! Não consigo dormir. Tentei mais uma vez. Me lembrei de quando minha mãe falava quando eu era pequena: - Fecha os olhos bem forte e fique com eles fechados que logo você dorme. E então eu tentava, e não conseguindo corria para a cama dela dizendo que estava com medo da noite escura. Ela sempre tão carinhosa, me levava de volta para a cama e se deitava ao meu lado acariciando meus cabelos até que eu pegasse no sono. Isso quando não contava histórias.
É! Não tenho minha mãe comigo agora. Ela deve estar lá em casa. Dormindo, também tão sozinha em seu quarto. Que vontade de estar lá ao lado dela.
Tentei, juro que tentei pegar no sono. Mas não sei o que hoje me fez inquietar. Resolvi me levantar e ligar o computador. Passei alguns minutos lendo notícias (Li uma que me espantou e vou escrever sobre ela), mas logo desisti. Isso estava me deixando mais angustiada ainda. Mas que coisa é essa? O que acontece? Não consigo dormir por nada. Fui ler alguns textos bonitos então. Algumas poesias. Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector... Mas nada. Nada me tirava aquela inquietude. Então, resolvi escrever.
Mas hoje não quero rimar palavras. Não quero dizer coisas bonitas. Não sei nem o que escrever pra falar a verdade. Só tentar me esvaziar de algo que está aqui e que não me deixa descansar um pouco (tão cansada que estou e não consigo pregar os olhos).
Acho que de repente me bateu aquela saudade. É! Aquela saudade sabe, do tempo bom das coisas simples de quando a gente era pequeno. De quando eu corria descalço pela terra e me perdia no meio do mato com as jabuticabas enroladas na blusa e minha mãe a gritar de longe: Júúúú! Cadê você? Ahh, que saudades!
De acordar de manhã e chegar na cozinha e ter aquele café quentinho e pão com manteiga. Do horário de almoço e de eu e meu irmão nos arrumando pra ir à escola.
Das brigas que tínhamos pra jogar no video game. Um queria ser melhor que o outro e no fim acabavamos sempre juntos pra passar aquela “última fase” do poderoso chefão. Ahhh! Quantas horas perdíamos ali sentados na beira ca cama, gritando, xingando quando não conseguíamos. Então chamavamos meu pai e ele nos ajudava.
Deu saudade das tardes gostosas quando voltavamos das aulas e chegavamos na casa da vovó pra tomar aquele café caipira. Gostoso! Quentinho! E depois reunir todos os amigos no quintal e sair pela rua pra brincar de “Pega-pega, esconde-esconde, salada mista, gato mia, polícia e ladrão”... Sem contar as "artes" que deixavam os cabelos da minha avó “em pé”, hahaha... Coitada! Ela sofreu com a gente. Ahh, mas era bom! Belas lembranças. Depois de tanto brincar era hora da mãe e pai chegar do trabalho. Tomar um belo banho e conversar. Contar tudo o que fizemos. Fazermos as clássicas perguntas. Tarefa de escola. Aff! Eu nunca queria fazer as contas de matemática, só queria desenhar no caderno de Educação Artística. E minha mãe super entendida de matemática queria que eu aprendesse na marra.
Ah! Deu saudades das coisas simples. Do avô tomando sol na varanda. Da minha avó varrendo a casa assobiando. Do sol da tarde bem amarelinho... dos cachorros no quintal brincando.
Deu saudade das tantas vezes que meu irmão quando brigava comigo descontava nas minhas bonecas. Das vezes que brincavamos de “lutinha” e no final pedíamos desculpas um ao outro.
Deu saudade dos ríspidos NÂO's bem grandes que meu pai dava quando eu lhe pedia pra dormir na casa de uma “amiguinha”.
Das guerras de travesseiros e das risadas intermináveis minha e do meu irmão a noite, antes de dormir. A gente não dormia. Queria é contar piadas, ou aprontar com a “mãe”.
Nooossa! Me lembrei das quantas vezes que minha mãe dormia no sofá e eu e meu irmão enchíamos o cabelo dela de laços e fitas estremamente coloridas. E sem ela perceber se levantava e parecia uma palhacinha andando pela casa, enquanto eu e meu irmão riamos pelos cantos só a observando (Claro que ela fingia que não via pra deixar a gente feliz).
Ahh! Que saudade de estar com a minha família. De voltar aquele tempo tão gostoso. Das roupas que a gente usava até rasgar e não tirava por nada. Eram as melhores pra brincar.
Deu saudade porque hoje ao dormir me peguei sozinha. Nesse mundo tão louco, tão grande aqui fora. As pessoas que não nos conhece por inteiro. Não sabe dos valores que carregamos aqui dentro. Sâo tão difrentes. Tão egoístas. Me dá medo. Me peguei numa fusão de mundos diferentes. O da tamanha simplicidade e calma que eu vivia, com uma pressão e explosão de tanta gente. Que pensa maldade. Que só quer curtir um barato. Que não tem paciência. Que joga lixo no chão. Que não tem respeito com o próximo. Que xinga no trânsito. Que jorra corrupção.
E eu tão longe de casa. Tendo que ser gente grande. Me virar sozinha. Fazer compras. Comida. Ficar doente e ter que saber me cuidar. Vestir uma roupa e confiar no espelho. Andar pelas ruas a noite e não me apavorar. Ter que lutar se quiser crescer na vida.
Procurar conselhos no travesseiro. As vezes querer chegar em casa e ter aquela pessoa especial pra contar como foi seu dia e não ter. Ahh que saudades! Que vontade que me deu de voltar só um pouquinho naqueles tempos.
E então a gente se pega sozinha, “sem proteção”, não sabe se confia, não sabe o que as pessoas são capazes. Muitas vezes se pega desprevenida numa situação inusitada. Dá aquele medo de cair e não ter quem possa te segurar, como era antes com a primeira volta na bicicleta. O primeiro “namoradinho na escola”. Quando caiu e ralou os joelhos. Quando alguém fez algum mal e a mãe interveio.
A gente começa a dar valor as pequenas coisas quando a avistamos de longe. Quando não as temos tão perto. Quando muitas delas voltar já não podem.
Mesmo sendo adulta, tendo tanta base. Tendo minhas decisões. Minha última palavra. Aprendendo a voar sozinha, ora destemida, ora tão carente. Dá saudades do colo de quem você se acodia e chorava sem ter vergonha alguma de contar suas fraquezas, seus medos. Ah! Dá saudade! Deu mta saudade!
E eu não consigo dormir...

2 comentários:

Mariana Marques disse...

Falou TUDO! Saudade de um tempo q não volta mais... foi com um pensamento desse q eu fui viajar semana passada, sozinha, a noite p Ribeirão Preto... passar o fds com minha única vó viva, curtir meus primos e tios, meus "sobrinhos"... nessa correria do dia a dia, com tds as preocupações com dinheiro,com trabalho, com a sociedade, acabamos deixando de curtir o q realmente importa na nossa vida... e isso não tem volta!

Lindo texto Ju, mais uma vez sua sensibilidade nos dizendo exatamente o q gostaríamos de dizer... exatamente o q sentimos!

Anônimo disse...

Oi Jú...nossa...só quem viveu essa infância sabe o valor de cada palavra que vc escreveu.
Lindo texto...