sábado, 3 de julho de 2010

O tempo certo chega.

A vida exige da gente mais leveza. Leveza pra poder seguir de forma mais prazerosa e menos temida. Como numa viagem. Quando estamos na estrada e olhamos ao nosso redor uma paisagem limpa. Muito céu e pouco chão. E então podemos contemplar cada detalhe, cada momento de um tempo que fica marcado. São as aves no céu, o pôr-do-sol, o vento fresco batendo no rosto, o caminho que às vezes parece longo, a música tocando, e o destino cada vez mais próximo.
Costumo dizer que o melhor de uma viagem não é o seu destino e sim todo o seu percurso. É que sempre temos a pretensão de preparar o futuro. Eu tenho. Você também deve ter. Contudo, tenho medo que essa pretensão seja demasiada. Que ela tome conta e me faça esquecer de viver o hoje.
É aí que nasce um peso desonesto sobre a gente. Pensamentos sobre ontem, hoje e futuro. Sendo que tudo, ou melhor, apenas devemos nos preocupar que tudo tem seu tempo certo de acontecer as coisas.
Uma cena que ilustra perfeitamente o que tento passar é a de um menino tentando soltar uma pipa pelo céu.
O menino foi ensinado. Sabe que a pipa foi feita para estar lá – voando. Ele foi ensinado assim. Já viu pessoas fazendo isso. Ele acredita que pode fazer o mesmo também. Sabe de todas as técnicas, pois já lhe falaram. Tem todo o equipamento em suas mãos e não resta mais nada a não ser praticar.
O menino se empenha. Faz tudo como tinha aprendido. Mas a pipa está momentaneamente impossibilitada de fazer o seu papel. Não por falta de técnica. Não por falta de tentativa. Mas, quem sabe pelo momento. O simples momento em que não havia vento suficiente no céu. De certo não havia sustento.
Mas sem desistir do projeto o menino continua. Olha pro lado. Conversa com os colegas. Tenta. Corre. Pergunta. Faz o que lhe é possível e quando ele menos espera o milagre acontece.
Obedecendo o destino dos ventos, a pipa aos poucos vai se desprendendo. Vai subindo e a linha se soltando. E o que por algum momento estava preso no chão, aos poucos ganha a imensidão do céu.
O rosto do menino se desprende junto do momento em que a pipa ganha liberdade pelo céu. Nasce um sorriso. Nasce os olhos vivos e a alegria de ter conseguido. Tudo ao seu tempo, de forma natural e leve. Sem querer passado, sem querer futuro. Felicidade de apenas vivenciar o presente. A linha nas mãos e a pipa no céu.
Juliana Sabbatini

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