Me lembro como se fosse hoje, numa aula de redação, em que o dever era descrever sobre o desenho pregado na parede. E eu fiquei nervosa. Olhava pra um lado e as canetas rabiscando o papel. Olhava pra outro, a mesma história se repetindo. Todos escrevendo como se aquela figura trouxesse uma inspiração inesgotável a ponto de ninguém se perder entre as idéias. E eu ali. Parada. Sem saber o que por no papel. Olhava pra imagem. Olhava pra minha página em branco, enquanto as canetas alheias dançavam nas mãos dos meus amigos como que bailarinas em um espetáculo de ballet clássico.
A figura desenhada e pregada à frente, era simples e objetiva. Uma árvore sendo balançada pelo vento. Com seus galhos contorcidos e folhas caindo pelo chão. Apenas isso. E o que descrever sobre aquela cena? A situação ficou intacta e de repente pra quem tinha sede e criatividade pra escrever o que quer que fosse, ficou nula. Tudo branco. E o tempo passando. E o final chegando. E eu precisando tirar nota.
Até que eu olhei pela janela. Vi o vento debruçando-se por entre as cópolas das árvores. Num ritmo como que de dança. Numa cena quase que poética. Num momento que me fez ter lembranças. E então rabisquei naquele papel imenso em branco, uma única e simples frase: “Sobre o vento não sei descrever. Só sei sentir”.
Tudo o que eu sabia sobre o vento não se podia traduzir para o universo das palavras. Era uma sensação sem saber. Como se fosse impossível simplesmente rabiscar algumas palavras de uma forma tão exata.
Diante daquela página em branco, visitava minhas lembranças felizes, de todas as vezes que de maneira tão terna, meu pai fazia sentir-me livre, abrindo os braços e sentindo o vento. Das lembranças em que sentava a beira mar pra sentir aquela brisa fresca. Das lembranças de quando corria com meu cachorro pela grama. Quando sentava numa cadeira de balanço. Quando andava de bicicleta sem descanso. Quando tudo o que eu podia sentir, era o vento tocando o meu corpo.
Nunca mais pude me esquecer daquele dia. Aquela resposta se tornou inquietante dentro de mim. Me foi reveladora. Me fez pensar o quanto vez ou outra a descrição sobre o vento se desdobra em inúmeras realidades. Vez ou outra, me pego aflita como naquele dia em não saber como descrever o que sinto. Como vou falar do que sinto? Como encontrar palavras que sejam capazes de alçar vôo e alcançar a metafísica dos meus afetos? Como descrever tudo sem que eu menospreze alguns detalhes? Sem que eu me esqueça de outras partes? Sem que eu não fique me sentindo culpada por não tê-lo dito de forma coerente e completa?
O saber e o sentir são verbos preciosos, mas não realidades que sobrevivem à superfície.
E diante disso, pude perceber que o divino na vida é sentir o que não se pode falar. É poder saber o que está lá dentro, mas sem saber como explicar. E a cada dia que vivo, fico ainda mais ansiosa pra cultivar isso dentro de mim. Querer que a matriz da minha vida, seja tudo aquilo que não se pode descrever.
Juliana Sabbatini
A figura desenhada e pregada à frente, era simples e objetiva. Uma árvore sendo balançada pelo vento. Com seus galhos contorcidos e folhas caindo pelo chão. Apenas isso. E o que descrever sobre aquela cena? A situação ficou intacta e de repente pra quem tinha sede e criatividade pra escrever o que quer que fosse, ficou nula. Tudo branco. E o tempo passando. E o final chegando. E eu precisando tirar nota.
Até que eu olhei pela janela. Vi o vento debruçando-se por entre as cópolas das árvores. Num ritmo como que de dança. Numa cena quase que poética. Num momento que me fez ter lembranças. E então rabisquei naquele papel imenso em branco, uma única e simples frase: “Sobre o vento não sei descrever. Só sei sentir”.
Tudo o que eu sabia sobre o vento não se podia traduzir para o universo das palavras. Era uma sensação sem saber. Como se fosse impossível simplesmente rabiscar algumas palavras de uma forma tão exata.
Diante daquela página em branco, visitava minhas lembranças felizes, de todas as vezes que de maneira tão terna, meu pai fazia sentir-me livre, abrindo os braços e sentindo o vento. Das lembranças em que sentava a beira mar pra sentir aquela brisa fresca. Das lembranças de quando corria com meu cachorro pela grama. Quando sentava numa cadeira de balanço. Quando andava de bicicleta sem descanso. Quando tudo o que eu podia sentir, era o vento tocando o meu corpo.
Nunca mais pude me esquecer daquele dia. Aquela resposta se tornou inquietante dentro de mim. Me foi reveladora. Me fez pensar o quanto vez ou outra a descrição sobre o vento se desdobra em inúmeras realidades. Vez ou outra, me pego aflita como naquele dia em não saber como descrever o que sinto. Como vou falar do que sinto? Como encontrar palavras que sejam capazes de alçar vôo e alcançar a metafísica dos meus afetos? Como descrever tudo sem que eu menospreze alguns detalhes? Sem que eu me esqueça de outras partes? Sem que eu não fique me sentindo culpada por não tê-lo dito de forma coerente e completa?
O saber e o sentir são verbos preciosos, mas não realidades que sobrevivem à superfície.
E diante disso, pude perceber que o divino na vida é sentir o que não se pode falar. É poder saber o que está lá dentro, mas sem saber como explicar. E a cada dia que vivo, fico ainda mais ansiosa pra cultivar isso dentro de mim. Querer que a matriz da minha vida, seja tudo aquilo que não se pode descrever.
Juliana Sabbatini
Um comentário:
“Sobre o vento não sei descrever. Só sei sentir”.
"Querer que a matriz da minha vida, seja tudo aquilo que não se pode descrever."
Simplesmente sensacional... poético e verdadeiro. O q é essa vida senão uma explosão de sensações... mtas delas inexplicáveis, impossíveis de se descrever. E são essas q fazem valer cada segundo de nossa existência.
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