terça-feira, 23 de março de 2010

Se eu pudesse me transpor em carne e osso
além das palavras escritas
Se eu pudesse entre as letras levantar
sair da folha de um papel
ou, da tela de um computador
E tocar, e falar tanta coisa
Talvez pra mim, não houvesse paixão pela poesia

Juliana Sabbatini

quinta-feira, 18 de março de 2010

Saudades

E num susto quase que poético
vim te conhecer assim tão de repente
Tamanha simplicidade em cada brejeirice
Tamanha era a satisfação dos meus lábios contentes
Quanta poesia traz esse teu leito
Quanta calmaria me traz esse teu jeito
Estive em teu berço da arte do jeito sorrateiro
Nos campos, na serra, onde impera o minério de ferro
Te vi e senti no teu sangue um dom verdadeiro
De cantar, de pintar, escrever pro Brasil inteiro
Nessa vida calma nas vilas serenas
Quero voltar dentre seus campos em flor
Ser ela dentre enormes cachoeiras, a pequena
Ser aquela que lhe demonstra tanto amor
Correr livre como os pássaros te sobrevoam
Sentir tocar em meu corpo teu perfume de novo
Sem sapatos tocar o teu chão
Respirar o cheiro da terra molhada
Sentir pulsar bem forte novamente o coração
Estar caminhando e suspirando pelas suas estradas
Meu caminho sem jeito
Quer brotar nessa fonte
Nessas minas de ouro
Nas montanhas gerais
Quero ser filha dos montes
Das estradas reais
Quero estar mais perto novamente
Quero estar em ti, Minas Gerais

Juliana Sabbatini

sexta-feira, 12 de março de 2010

Encontro

Ansiava a volta pra casa. Tinha um encontro marcado. Daqueles que todo mundo precisa ter um dia. Que te tira da rotina. Que mexe com você inteira. Que ilumina seu caminho. Que faz valer tudo novamente. Esperou a hora passar e quando o sinal verde acenou no farol, partiu em direção ao começo de um momento ímpar. Parou no supermercado, comprou o vinho que mais gostava. Se engraçou com alguns pestiscos e uns docinhos pra encrementar a vida. E foi. Entrou no elevador, comprimentou seus vizinhos com um sorriso. Chaves na porta, estava em casa. Colocou o vinho pra gelar. Ligou o som no seu CD preferido. Arrumou a mesa do gosto mais simples e mais delicado que achava. Deixou meia luz. Com pequenas florzinhas sobre a mesa. Violetas. Caminhou em direção ao quarto, tomou um banho eterno. Daqueles que você lava a alma. Perfumou-se. Agradou suas mãos com o cheirinho que ficara dentre tanto tempo sobre a sua pele. Secou os cabelos. Prendeu. Procurou o vestido. Aquele simples e bonito. Algodão. Calçou uma sandália e foi até a sala. O interfone tocou. A comida tinha chegado. Olhou para o relógio e percebeu que o tempo passava muito depressa. Sentou-se a mesa ao som de um de suas músicas preferidas e comeu. Saboreou a comida como jamais havia saboreado. Foi ao armário. Deu vontade de olhar algumas fotos. Sentou-se no chão da sala e ali viajou. Sentiu saudades dos amigos que há tanto tempo não via. Riu. Riu muito sozinha com as histórias que ficara guardada entre sete chaves dentro dela. As piadas. Os apelidos. A criancice. A meninice. As artes. Os puxões de orelha. As músicas do tempo. Tudo passando em instantes. Algumas, ela olhava com os olhos intactos. Como se o tempo tivesse parado ali pra sempre. Até que eles inundaram-se de água. Guardou. Guardou tudo e desligou o som. O telefone tocou. Conversou um bom tempo. Soube de novidades. Se alegrou. Foi à janela. Olhou a noite. O céu estava lindo. Noite fresca e límpida. Parecia outono. A estação que mais estima. A lua brilhava como um farol na noite. Sentiu um ventinho gelado, fechou os olhos por uns instantes e voltou. Escovou os dentes. Se olhou. Apagou a luz da sala. Puxou o edredom. Ajeitou o travesseiro. Aninhou-se em seu abraço. Ligou a TV e adormeceu vendo o seu filme favorito.

Às vezes no silêncio de uma casa vazia, nada melhor que nos abrigarmos em nossa própria companhia :)

Juliana Sabbatini

Música gostosinha de ouvir: "MARGARIDA" - http://www.youtube.com/watch?v=XJlrkJM8ONE

segunda-feira, 8 de março de 2010

Exato

Um mais um será sempre igual a dois. Um menos um, zero. A morte é matemática. A vida, não. A vida é delicada e inexata. É pra quem sabe brincar de poesia.

Aprendendo

E na exaustão de mais um dia corrido
E na correria louca que agride nossos pensamentos
Chegamos em casa sem tempo
Chegamos em casa no vento
A gente só volta porque não tem outro lugar
A gente mergulha sem saber o final
A gente olha e lê palavras
Que nos afinam
Que nos animam
Que nos caminham
Quem sabe a um mesmo lugar
Palavras que enchem nossos olhos
Palavras não ditas
Palavras escritas
Palavras cantadas
Palavras que abrigam o silêncio do coração
Palavras que se perdem e se esvaziam no vento
E o dia nasce e o sonho cresce
E as palavras ficam
E as imagens intensificam
As que a gente imagina quando lê
E vamos vivendo e aprendendo
A afinar o instrumento
que nos faça cantar a melhor canção
Instrumento que coordena o coral que rege a emoção
Instrumento que nos traz aqui entre palavras
Que faz nos encontrarmos pra um mesmo sentido
Entender e afinar o coração

Juliana Sabbatini