quarta-feira, 23 de junho de 2010

Voa coração.

Voa coração
Voa que meus sonhos te sustentam
Viaja pra bem longe
Viaja sem parar
Onde não haja muita gente
Deve haver esse lugar
A paz ao fundo pede
Uma estrada emprestar
Trazer com ela até o amanhecer
A simplicidade que a natureza tem pra oferecer
Vara a escuridão, onde a noite esconde a lua
Clareia o caminho, acendendo cada olhar
Num lugar simples, ver o lindo dia despontar
Vai onde o jardim é o quintal pra se ficar
Colher as flores que ninguém jamais semeou
Enfeitar o mundo, como você sempre imaginou
Vai e não se esqueça de trazer
A magia, a fantasia de saber viver
Numa casinha lá onde mora o sol poente
Onde festejam luas cheias, minguantes e crescentes
Numa noitinha que suave e contente
Nos levará ao melhor sonho finalmente
Satisfazendo tudo aquilo que a gente sempre quis
E simplesmente nos permitindo ser feliz

Juliana Sabbatini

Uma música só.

Vista-se devagar
Sem pensar no quê
O amanhã trará
No amanhecer
Ah! Se eu pudesse entender
Todos os mistérios desse mundo
Diria todos num segundo
Pra você não se apressar
Ah! Se eu pudesse encontrar
Todos os caminhos mais seguros
Te levaria até eles
Pra você não se machucar
Ah! Se eu pudesse trazer comigo
Todas as palavras
Que você quisesse escutar
Ah! Se eu soubesse de todas as dores
E pudesse assim, pra sempre te curar
Ah! Se eu pudesse fazer ao menos uma melodia
Pra preencher esse seu dia
Só pra te encantar
E esse seu olhar
Ao encontrar o meu
Embalar numa música só
Num ritmo suave, só você e eu

Juliana Sabbatini

Assim.

Um cantinho, um violão
Papel rasgado em minhas mãos
Uma caneta pra expressar com toda calma
Em cada letra registrar
Um pouquinho do que se olha
Muito tempo pra pensar
Muito espaço pra sonhar
E da janela poder ver
O pôr-do-sol pra me encher
Cada vez mais de vida
Cada vez mais de alegria
Da esperança de um dia
A tristeza não ser mais triste não
De pulsar a felicidade bem forte no coração
E assim jorrar pelo corpo inteiro
A inesgotável sorte de se ter um canteiro
A plantar as mais belas flores
A observar borboletas multicores
E os pássaros com suas melodias
Da orquestra dos amores
Quero a vida sempre assim
Com a paz perto de mim
Sem me esquecer como se ama
Quero a vida sem pensar
E perceber a coisa mais divina
Que há no mundo
Viver cada segundo
Como nunca mais

Juliana Sabbatini

Bela sem alma.

Ela estava sozinha. Andava, corria e caminhava sem rumo. No sol, na chuva. Seguia seu percurso viva e impecável por fora. Seu sorriso era como se fosse programado sempre que recebia um elogio, nas horas de cumprir as regras sociais, por educação... Suas palavras eram curtas. O suficiente para comunicar-se e levar assim a vida. A maior parte do seu tempo, o silêncio a cortejava. O silêncio era seu amigo, seu abrigo, à medida que os dias passavam. Seu olhar era aquele ofuscado. Meio parado, como o de alguém que olha ao longe. Alguém que espera por algo. Alguém que espera que algo aconteça. Alguém que a faça acontecer. Seu corpo todo era lindo. Por onde passava era visto. E assim permanecia intacto. Tinha uma coisa. Coisa assim que não se dá nome. Que chamava. Que atraia quem a visse. Um sorriso largo meio misturado, meio disfarçado pelo olhar triste e a sua alma... Doce. Era linda. Era comparável aos sentimentos mais sublimes que uma pessoa pode ter. Fina. Frágil. Transparente. Sincera. Mas agora, é como se ela fosse roubada. Como se fosse arrancada. Tirada e levada pra algum lugar desse mundo. Perdida. Sem rumo. Sozinha. Porque é bem visto que nesse corpo bonito, do sorriso marcante e do olhar triste. Essa alma já não mais reside.
Em algum lugar do mundo com alguém, ela persiste.
Juliana Sabbatini

terça-feira, 15 de junho de 2010

Segredo.

Eu quero aquele clima de noite serena. Orvalho gelado caindo na grama. E, a paz do silêncio pra me acompanhar. Eu quero ouvir e sentir o vento. Mergulhar em meus pensamentos a ponto de não estar. Eu quero partir pra um lugar distante que seja o bastante pra poder me encontrar. Eu quero o banho demorado, o vestido talhado de frases que me descrevam cheio de exclamações. Eu quero me ter. Quero me conhecer no silêncio da madrugada. Quero a música ao fundo. Quero os cabelos molhados. Quero o perfume. Eu quero estar numa casa simples de cortinas brancas, finas, de renda, esvoaçando pela janela. Quero a cama larga, de madeira rústica, de lençóis claros a abraçar meu corpo todo sobre ela. Eu quero o céu todo estrelado. A lua sobre meu espaço, clareando apenas a silhueta. Eu quero me dispor de qualquer assunto. Quero guardar bem lá no fundo o que me vier na cabeça. Eu quero não só viver de poesia. De poesia escrita, apenas registradas em um papel. Eu quero a poesia viva. A poesia sentida e alguém do lado meu. Eu quero amar, quero estar onde nunca alguém se escondeu. Eu quero conhecer, quero decifrar, quero desvendar cada detalhe e cada segredo seu.

Juliana Sabbatini

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Procura.






Venho de uma luta constante. De um mar revolto que não me dava descanso. Um gosto de água salgada na garganta e sede de paz. Cansada de lutar. Tudo o que eu queria era um abrigo, água e nada mais.
Não vinha a procura de um porto seguro. Eu já tinha o meu. Começado, talhado e decorado com meu eu. Podia não ser o melhor que alguém já viu, mas tinha meu jeito, meu cheiro.
Eu vinha a procura de não sei bem o que. Vinha a procura de não mais procurar. De descansar num julgo suave. Numa paz inconsciente. Que chega, envolve e aquece.
Tudo o que eu queria era a paz. A paz que sorri de um jeito puro. Que abraça de um jeito suave. Que olha e toca sem deixar que escape o coração pulsar mais forte. O sangue correr mais rápido. O brilho nos olhos de estar amparado.
A paz que transparente não se vê, mas se sente. No outro. Num outro que a gente não conhece. Que a gente descobre a cada dia no silêncio das palavras. Nos toques das mãos. Na ausência de um agrado. Na gentileza da emoção.
Paz que é chegar em casa sorrindo. Insônia boa. Saudade que revela. Certeza que não mata. Paz que nos faz encontrar uma semelhança macia. Momento em que encontramos um lugar confortável em nós. Poder então saber um pouco do que vai no outro e sentir que o pouco é que mais nos satisfaz.
Juliana Sabbatini

Alma de mulher.






Vestidos vestem voluptuosos. É vida. Ventando por fora e por dentro da gente. Vestidos sinuosos, vestidos transparentes. Vestidos vestem despindo deixando o sangue quente. Perigo aos olhos dos que olham. Coração ardente. Vestidos vestem. Vestidos voam. Vestidos que revestem o corpo de mistérios e atraem os que sonham. Vestidos de tempos antigos, tempos passados e tão instintivos. Insinuando vestindo vestidos. Vestindo vestidos. Perigo. Verticalizando as curvas que sob vestidos indagam sutilmente a mente de quem está sentindo. Vestidos que ao toque do vento voam. Revelam silhuetas, não de magras e nem gordas, curvas de mulher. Pra dizer que a mulher que vestido veste, melhor seria dizer que o despe.

Juliana Sabbatini